Cachoeira de Missão Velha
Por: Jonas Klebio Landim Santana
De acordo com a Obra de João Brígido, Ceará Homens e Fatos (p. 86-91), que transcreve a segunda tradição contada pelo Coronel Leandro Bezerra de Monteiro, o negro seqüestrado pelos índios cariris em menor idade (história contada na primeira tradição), era escravo de Medrado, Procurador da Casa da Torre da Bahia, este negro que tinha se identificado com os índios, em decorrência da guerra entre as tribos cariri, cariú e calabaças, se ofereceu para buscar ajuda dos brancos no rio São Francisco, onde Medrado exercia seu emprego.
Alguns índios saíram acompanhando o
negro em busca de ajuda. Ao tomar conhecimento da situação, Medrado,
aproveitando a oportunidade de expandir os domínios de sua procuradoria, foi
até a Bahia e, reuniu uma bandeira (expedição armada), e tendo o negro como
guia, entrou no território dos cariris. Em sua passagem por estas terras deixou
na Cachoeira de Missão Velha, uma cruz, uma estacada ou caiçara e dez novilhas
situadas com um novilho, para marcar território.
Um ano após esta exploração,
reunindo grande número de combatentes retornou ao local demarcado. Chegando à
cachoeira encontrou demolido o serviço que tinha feito, porém, o negro para não
prejudicar os índios, afirmou que aquilo não era obra dos índios, e sim de
brancos, fosse quem fosse. João Brígido Transcreve ainda em sua obra que:
¨Abarracados ali, e estando à noite
de sentinela João Correia Arnaud sofreu este um tiro de flecha e, disparando
sua clavina, matou o índio, que o tinha acometido. Foi preso por amortinador
mas, mostrando a ferida e a flecha, com que fora agredido e pronunciando-se a
seu favor o negro e os índios seus companheiros, foi solto¨.
¨No dia seguinte, fazendo o negro
suas explorações, achou que no brejo de Missão Velha se achava uma aldeia de
inimigos. Foi cercado o brejo de Missão Velha se achava uma aldeia de inimigos.
Foi cercado o brejo pelas tropas e ordenou-se ao negro o assalto. Horrível
carnificina fizeram os cariris em seus inimigos, ao ponto de se comprazer de
untar-se com os miolos das crianças, cujas cabeças quebravam contra os paus
pegando-as pelas pernas. Algumas caboclas moças foram presas, levadas para o
acampamento e depois atadas umas às outras e precipitadas na Cachoeira¨.
¨Fazendo novas explorações, o
incansável negro achou que no vale de Barbalha existia outra aldeia inimiga.
Foi da mesma sorte cercado este vale e segunda vitória tiveram os cariris¨.
¨No ardor dessa luta, observou-se
que um indivíduo se conservava impassivelmente deitado em sua rede: foi preso e
achou-se ser branco. Esse individuo tinha o apelido de Ariosa. Sendo criminoso
na Bahia, tinha-se refugiado nesses centros e vivia com os índios. Preso,
Ariosa empenhou-se com o capelão da bandeira, e este lhe facilitou a fuga¨.
¨Obtendo-se Ariosa o perdão de seus
crimes, passou-se a Portugal e, propondo ação ao senhorio da Torre, conseguiu
ser-lhe dado o domínio das terras já por ele descobertas¨.
¨Eis a razão porque a Torre não estendeu seus domínios até o Cariri¨.
¨Ignora-se o tempo preciso desse
acontecimento, mas crê-se, com fundamento, que foi no ano de 1706 ou 1707,
porque João Correia Arnaud, sendo mandado por sua irmã D. Maria Arnaud, a quem
a Torre concedera a graça de escolher lugar para três fazendas, as quais foram
Buriti Grande, Cachoeira e Carité, veio na idade de 18 anos. Voltando a sua
terra e ali casando-se e tendo muitos filhos, veio estabelecer-se em Missão
Velha, onde morreu em 1771, tendo idade de 82 anos¨.
¨Crê-se também que a povoação de
Missão Velha teve principio em 1725, pois a razão de ter tomado esse apelido e
a outra sua vizinha a de Missão Nova, foi que, quando missionava o frade
catequista no primeiro destes lugares, aconteceu haver uma seca tão rigorosa
que faltaram as águas, sendo preciso transferir a missão para o segundo, duas
léguas acima; pelo que tomou o nome de Missão Nova¨.
¨E como a seca grande, de que há
noticia por esses anos, fora a de 1725, está conhecido ter sido esse o tempo de
catequese dos índios¨.
Imagem capturada em: portaldonc.wordpress.com
Texto: BRIGIDO, João. Ceará Homens e Fatos, Classicos Cearenses, 2001.
Imagem capturada em: portaldonc.wordpress.com
Texto: BRIGIDO, João. Ceará Homens e Fatos, Classicos Cearenses, 2001.
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